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Consciência Alimentar: Desdobramentos Vão Além do Simples Ato de Comer

Entrevista com JANE MARY GUIMARÃES LUTTI


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Natural de Avaré, no interior paulista, onde também reside, Jane é escritora, jornalista e publicitária. Espírita de infância e por força da profissão não vinculada atualmente a alguma instituição, Jane traz um tema pouco tratado e muito marcante na vida humana: a alimentação! A vinculação do alimento com o afeto, com os encontros, com a caridade, é bem expressiva, entre outros desdobramentos. Especialmente considerando os diálogos da convivência, a libertação do automatismo, sem desconsiderar a aquisição de uma certa consciência alimentar.


1 - Como surgiu o interesse pela graduação e pós em Cozinha Brasileira?

Quando começamos a nos interessar pelo assunto alimentação e cultura na cozinha, somos impactados pelo padrão eurocêntrico de gosto e de ingredientes por conta da colonização. Isso acaba fazendo com que a gente não se questione ou simplesmente nunca olhe para o que é o "gosto brasileiro" e o ingrediente tipicamente brasileiro, nascido e cultivado em nossas terras. À medida que nos interessamos mais pelo assunto comida é preciso expandir e conhecer o que é nosso, em especial os biomas do país. Cozinha brasileira é algo que faz urgente conhecer, através de programas pedagógicos em escolas ou instituições - seja de iniciativa particular ou do estado.


2 - O que está embutido na expressão Cozinha Afetiva?

A Cozinha ou Culinária Afetiva vai além do compartilhamento de receitas ou lembranças distantes. Trata-se de uma reflexão sobre a dinâmica que a cozinha instaura e a maneira como nossas relações pessoais e nossas escolhas cotidianas nos impactam emocionalmente, moldando a forma como vemos a vida e criamos registros. 


3 - De que forma essas memórias influem no comportamento diário cotidiano?

Creio que influenciam em todas as atitudes que estendemos para além da cozinha: se você respeita o preparo, os ingredientes, o tempo de cozinhar, o tempo do cozinheiro, reaproveita alimentos, enfim, tudo isso vai se refletir no modo como se relaciona com os outros tb. A cozinha nos ensina paciência, cuidado, treino e foco total no momento presente de uma forma muito prazerosa. 


4 - Considerando a diversidade dos alimentos disponíveis e a criatividade humana na arte do preparo de alimentos, o que lhe ocorre trazer aos leitores?

Ocorre-me trazer uma cutucadinha para que voltem à cozinha e voltem a preparar suas próprias refeições. Vejo que o retorno às cozinhas se faz necessário, uma vez que a indústria de ultraprocessados avança enquanto ficamos mais preguiçosos para cuidar da própria comida. Ir para cozinha e cuidar de algo que você fará pelo menos 3 x ao dia é uma questão de cuidado com a própria saúde.


5 - Em todo esse processo envolvendo a convivência e a alimentação humana, onde entra a caridade?

Na empatia: a partir do momento que você entende a fome, a necessidade da refeição, é impossível não pensar no irmão que também tem as mesmas necessidades humanas. Só por este fato, pela fome em si, temos uma condição sine qua non para olharmos o próximo.


6 - Os ambientes sempre agradáveis de encontros entre amigos ou familiares, regados a lanches, cafés e mesmo refeições propriamente ditas, considera também isso marcante na evolução dos espíritos?

Difícil imaginar um cenário de decisões, conversas, evolução, discussão, alegria sem uma mesa presente. É a partir da mesa que nos conectamos ao outro, sentamos todos no mesmo nível, portanto, em uma reunião de partilha (seja de conhecimento ou de alimento) é o momento em que um ouve o outro ou é o momento em que um alimenta, cuida e nutre o outro. Ali assimilamos o carinho da oportunidade, a vitamina do alimento ou o agradecimento pela reunião desses espíritos encarnados. Sentar à mesa é um momento de trégua e entrega. Quanto mais fizermos isso, mais vezes ao dia, creio que estaremos um pouco mais próximos de boas conciliações ou de fortalecimento de relações.


7 - Fale de seu livro

Meu mais novo livro é o "Comida é Memória - 23 histórias de aquecer o coração"- lançado pela editora Labrador. Trata-se de um relato absolutamente pessoal de minha vida em que analiso e filosofo sobre pessoas usando a lente da comida e a cultura alimentar para transbordar o que sinto. A minha vontade ali é de compartilhar histórias e instigar o leitor a fazer sua própria viagem por conta da memória e suas experiências na cozinha.


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8 - De sua experiência acadêmica e profissional ligada à alimentação, o que gostaria de dizer aos leitores.

Creio que independente da formação, a tema alimentação precisa ser falado, pesquisado e conhecido por todos. Não deve ser um assunto de técnicos ou teóricos. Daí minha vontade de provocar a todos que cuidem de suas cozinhas, que se envolvam no preparo de suas comidas, que conheçam seus gostos, como a comida impacta seu corpo, sua saúde, seu humor. Todos precisamos fazer isso de forma menos automática.


9 - Qual a lembrança mais marcante a transmitir?

No livro conto a história do sanduíche de linguiça do meu pai. Creio que essa é a lembrança mais marcante. Convido a todos a lerem a crônica


10 - Para aquisição de seu livro, quais os contatos?

Os livros estão disponíveis na Amazon e no site da Editora Labrador, nas versões digital e física. Mas também é possível encontrar nas unidades das livrarias da Villa em SP, Brasília, BH e outras redes do país. Para quem quiser adquirir um exemplar autografado com dedicatória especial, a compra é feita direto com a nossa assessoria pelo WhatsApp (11) 96920-4945 ou pelo instagram do @GastrôLité https://www.instagram.com/gastrolite/ 


11 - Suas palavras finais.

Convido a todos para visitarem suas próprias cozinhas. Usem o cômodo para ver a vida, use-a como uma lente que põe setores como cultura, sociedade, crises, psicologia, economia, clima, relacionamento, saúde, vida e ética em perspectiva. Com o livro, espero que as crônicas inspirem cada leitor a fazer suas reflexões a partir da mesma ótica. A intenção é abrir uma boa conversa na mesa da cozinha aquecer o coração.


Orson Peter Carrara –


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