O BRASIL E A NECESSIDADE DE NEOINDUSTRIALIZAÇÃO
- ESPAÇO MATÃO COMUNICAÇÕES
- 18 de dez. de 2023
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Como empresário e líder empresarial, falei muito nos últimos anos, em reindustrialização, e estamos convencidos, cada vez mais, de que a transição energética, e a economia verde, serão os vetores fundamentais que irão pautar este ciclo da nova indústria.
A neoindustrialização, que vem em substituição à reindustrialização, é uma abordagem mais voltada para o futuro do que a reindustrialização, reconhecendo que o Brasil ainda possui nichos de indústrias avançadas e que uma política de industrialização requer uma abordagem de longo prazo. A proposta do Poder Público é fortalecer áreas em que o país já tem capacidade instalada e potencial para ampliar a produtividade de maneira sustentável.
O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin empregou a expressão neoindustrialização para se referir a essa proposta, destacando que o Brasil é um protagonista no combate às mudanças climáticas e no avanço das energias renováveis. Além disso, ele ressaltou a importância de reduzir os juros e implantar uma reforma tributária para alavancar o setor industrial.
Os efeitos das últimas crises mundiais, tanto econômicas quanto de saúde pública, a transição em curso para um mundo multipolar, os conflitos comerciais e geopolíticos, a desaceleração da produtividade, a transformação digital e as mudanças climáticas nos obrigam a rever as estratégias sobre o futuro do país e da indústria.
A pandemia e a guerra da Ucrânia levaram à desorganização das cadeias de suprimento, obrigando a maioria dos países a reavaliarem a necessidade de uma certa autonomia tecnológica e produtiva. O Brasil, também, não pode depender, exclusivamente, da importação de insumos estratégicos, para seu abastecimento, como a história recente demonstrou.
Nesta nova guerra fiscal para atrair os investimentos necessários para o nearshoring, friendshoring ou reshoring, ou seja, para redesenhar as novas cadeias produtivas globais, os países em desenvolvimento disputam estes capitais com suas vantagens competitivas, como o Sudeste Asiático, ou com vantagens comparativas, como a proximidade com os Estados Unidos, no caso do Mexico.
Por outro lado, os países desenvolvidos, que apresentam normalmente custos de produção mais elevados, estão entrando nesta briga botando muito dinheiro em incentivos a novos investimentos, em pesados subsídios à produção local e, ainda em subvenções, claras ou disfarçadas, ao esforço de P&D das empresas locais.
Segundo estudo recente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), para a indústria de transformação recuperar a posição já ocupada em 1970, ela precisaria aumentar o seu nível de investimentos em 70% pelos próximos 10 anos. É, claramente, uma missão impossível para o setor privado, sem a participação explícita do Estado neste esforço.

A indústria de máquinas e equipamentos, setor que emprega quase 400 mil pessoas, mesmo ocupando posição de destaque no Brasil e no mundo, exportando quase US$ 13 bilhões para países que exigem elevado padrão de sofisticação e qualidade dos bens, não está imune às consequências adversas deste cenário. Um exemplo destas dificuldades é que cerca de 80%, das vendas de nossos associados, é feita com recursos próprios de nossos clientes.
Para reverter o quadro acima, o Brasil precisa voltar a ser competitivo. Isto significa a criação de um ambiente macroeconômico favorável à produção, com inflação sob controle, contas governamentais ajustadas, que permitam a retomada dos investimentos públicos em infraestrutura, a eliminação do custo Brasil e, onde os resultados do investimento produtivo sejam menos taxados que os investimentos financeiros, condição sine qua non para a produção e o trabalho voltarem a ser atrativos, como já foram, no passado.
João Carlos Marchesan,
é administrador de empresas, empresário,
vice-presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ
e presidente da AGRISHOW.





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